Luanda – O professor universitário e deputado do MPLA, Paulo de Carvalho, lançou um duro alerta ao seu próprio partido, afirmando que a continuidade do atual modelo de governação poderá conduzir ao colapso político e social em Angola. Em artigo divulgado nas redes sociais, Carvalho apelou ao diálogo político sério, à escuta dos cidadãos e à reforma urgente das políticas públicas, sob pena de o MPLA ser afastado do poder “ou pelas urnas, ou pela força”.
Fonte: Rádio Despertar
O texto, intitulado “Subsídios da desgraça”, analisa os efeitos sociais e políticos da recente subida do preço do gasóleo em 33%, que levou à paralisação dos taxistas em várias cidades, incluindo Luanda, e a episódios de violência que resultaram em mortos, feridos e destruição de bens.
Paulo de Carvalho critica a falta de planeamento, transparência e comunicação do governo sobre medidas impopulares. Considera que o aumento de 50% no preço da corrida de táxi coletivo não é justificado, uma vez que a gasolina — ainda utilizada por 30% dos táxis — não sofreu alterações de preço. Para o académico, este tipo de decisões sem auscultação pública alimenta a revolta popular.
“A ausência de escuta e a má comunicação são receitas seguras para o fracasso”, afirma. E acrescenta que os protestos não foram promovidos por partidos da oposição, mas sim pela insatisfação legítima da população, exausta de “tantos anos de promessas vãs”.
Paulo de Carvalho vai mais longe e defende que os recursos poupados com o fim dos subsídios aos combustíveis devem ser claramente canalizados para a melhoria da vida dos mais necessitados. Critica ainda o despesismo estatal, as festas e o luxo de governantes, enquanto milhões de angolanos vivem na pobreza extrema.
Outro ponto sensível é o papel da Polícia Nacional, cuja atuação durante os protestos foi classificada como desproporcional. O autor alerta que “a polícia tem de deixar de agredir e matar pessoas sem disso haver real necessidade”, sublinhando que se o país continuar neste rumo, os efeitos poderão ser comparáveis aos tempos mais duros do regime colonial.
Carvalho também critica a parcialidade da comunicação social estatal e exige que os órgãos públicos sirvam ao bem comum, sem fazer propaganda política ou desinformar a população.
No fecho do artigo, o deputado escreve que Angola atingiu “o ponto de ruptura com o passado de submissão popular” e desafia o seu partido a mudar radicalmente de postura. Caso contrário, avisa, “o resultado será apenas o seu afastamento do poder”.
Paulo de Carvalho conclui que o MPLA precisa modernizar-se e escutar os verdadeiros militantes, sob risco de repetir os erros que levaram à queda de regimes no passado.
“Os dados estão lançados. Ou mantemos a postura de ‘trungungu’, e caímos, ou mudamos de atitude e conduzimos o país ao progresso.”